Imagine ser Deus. Ter dado uma Lei perfeita — e verem ela ser corrompida, distorcida, usada para manipular e oprimir.
Ter estabelecido um templo santo — e vê-lo se tornar palco de hipocrisia, interesse e falsidade.
Ser o Rei soberano de toda a terra — e ser mais desprezado do que a maioria dos homens.
O quanto isso doeria?
Se você fosse Deus… o que sentiria?
Foi exatamente assim que Deus se sentiu em relação ao Seu povo.
No último livro do Antigo Testamento, o livro de Malaquias, ouvimos o próprio Deus abrir o coração ferido. Não com indiferença, mas com dor. Com desabafo. Com perguntas que cortam como faca.
“O filho honra seu pai, e o servo o seu senhor. Se eu sou pai, onde está a honra que me é devida? Se eu sou senhor, onde está o temor que me devem?” — Malaquias 1:6
Essas palavras foram direcionadas aos sacerdotes de Israel. Homens que deveriam ser os líderes espirituais da nação. Aqueles que conheciam a Lei, que ofereciam os sacrifícios, que ensinavam o povo… mas que, na prática, tinham perdido totalmente o temor do Senhor.
Eles perguntavam:
“De que maneira temos desprezado o teu nome?”
E Deus respondia:
“Trazendo comida impura ao meu altar! Vocês dizem que a mesa do Senhor é desprezível. Trazem animais cegos, mancos, doentes como oferta… Tentem oferecer isso ao governador! Será que ele aceitaria?” — Malaquias 1:7-8
Os líderes espirituais estavam entregando a Deus o resto. O que não servia. O que estava estragado.
Ofereciam animais doentes, cegos, feridos — mesmo sabendo que nenhum ser humano importante aceitaria esse tipo de presente.
Mas ofereciam isso ao Deus que os havia tirado do Egito com mão poderosa.
A adoração havia se tornado algo rotineiro, vazio, hipócrita.
E então Deus diz algo ainda mais surpreendente, quase inacreditável:
“Oxalá houvesse entre vós quem fechasse as portas, para que não acendêsseis em vão o fogo do meu altar!” — Malaquias 1:10
É como se Deus estivesse dizendo:
“Prefiro que fechem o templo, que parem tudo, do que continuarem a me cultuar assim, com falsidade.”
Uma das coisas que mais feriam o coração de Deus era ver como os líderes espirituais manipulavam a fé para benefício próprio. Um exemplo claro disso é o que Jesus denuncia em Marcos 7.
Ele diz o seguinte:
“Vocês anulam o mandamento de Deus para seguirem suas próprias tradições.”
E então dá um exemplo chocante:
A Lei de Deus ordenava que os filhos honrassem pai e mãe — o que incluía cuidar deles, especialmente na velhice ou necessidade. Mas os líderes religiosos da época inventaram uma tradição chamada “Corbã”.
O que era o Corbã?
A palavra “Corbã” vem do hebraico qorbān, que significa oferta consagrada a Deus.
Na prática, funcionava assim:
• Se uma pessoa dissesse:
“Meus bens ou minha ajuda financeira estão dedicados como ‘Corbã’ (oferta a Deus)”, então ela ficava proibida de usar aquilo para ajudar os pais, mesmo que estivessem doentes ou passando fome.
Era como se dissesse:
“Mãe, pai, eu sei que vocês precisam… mas o que eu tenho já é ‘de Deus’ — então não posso ajudar.”
E o pior?
Era só da boca pra fora.
Na maioria das vezes, não davam nada a Deus de verdade.
Apenas usavam essa desculpa para guardar os bens para si mesmos — e parecerem espirituais diante do povo.
Jesus condena isso com força:
“Vocês dizem: ‘Se alguém disser ao pai ou à mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã (isto é, oferta ao Senhor)’, então o dispensais de fazer qualquer coisa por seu pai ou por sua mãe, invalidando, assim, a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós transmitistes. E fazeis muitas coisas semelhantes a esta.” — Marcos 7:11-13
Ou seja:
Eles usavam o nome de Deus para quebrar os mandamentos de Deus.
Substituíam o amor por religiosidade fingida.
Jesus mostra que essa “tradição” era uma farsa:
• Era invenção humana.
• Contradizia a própria Palavra de Deus.
• Era usada para justificar egoísmo e desobediência.
Por que isso é grave?
Porque distorciam a Lei de Deus para fazer a própria vontade. Mantinham a aparência de piedade, mas o coração estava longe de Deus.
Não só inventavam leis que invalidavassem mandamentos de Deus, mas violavam a essência dos mandamentos e aliança com Deus, que exigia justiça, misericórdia, verdade e amor.
Foi por atitudes como essa — hipocrisia, legalismo e manipulação da fé — que Jesus os confrontou abertamente:
“Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas.” — Mateus 23:23
Jesus não apenas denunciou a hipocrisia dos líderes religiosos — Ele expôs sua verdadeira motivação: controle, poder, dinheiro e orgulho.
“Praticam todas as suas obras a fim de serem vistos pelos homens [...] Gostam do lugar de honra nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, das saudações nas praças e de serem chamados ‘Rabi’.” — Mateus 23:5-7
Por orgulho e desejos próprios conspiraram contra ele.
“Se o deixarmos assim, todos crerão nele; então virão os romanos e tomarão o nosso lugar e a nossa nação.” — João 11:48
Eles eram os guardiões do templo, mas se tornaram os porteiros do inferno.
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais, nem deixais entrar os que estão entrando.” — Mateus 23:13
Seus corações estavam tão endurecidos que crucificaram o próprio Deus quando Ele veio ao templo que diziam servir.
Na parábola da vinha, Jesus ilustra isso perfeitamente:
Um homem plantou uma vinha, arrendou a lavradores e foi para longe. Quando enviou servos para receber os frutos, os lavradores os espancaram. Por fim, ele enviou seu próprio filho, pensando: “A meu filho respeitarão”.
Mas os lavradores disseram: “Este é o herdeiro! Vamos matá-lo e ficar com a herança!” — e o mataram. — Marcos 12:1-9
Malaquias havia profetizado que O Senhor viria pessoalmente ao templo.
“Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais.” — Malaquias 3:1
Deus não diz “um servo virá”.
Nem “um anjo virá”.
Mas:
“O Senhor virá ao seu templo.”
No momento da morte de Jesus, algo sobrenatural aconteceu:
“Jesus, clamando com grande voz, entregou o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; tremeu a terra, e fenderam-se as pedras.” — Mateus 27:50-51
O véu separava o povo da presença de Deus.
Mas agora… Deus havia descido. E a separação acabou.
Poucos anos depois, o templo foi destruído em 70 d.C.
E nunca mais foi reconstruído.
Por quê?
Porque agora o templo é Cristo.
E quem crê Nele… também se torna templo.
“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” — 1 Coríntios 3:16
Por isso Ele veio.
Ele não veio só para morrer.
Ele veio porque já não suportava mais a adoração fingida.
Veio porque Seu nome estava sendo desprezado.
Veio porque havia prometido que viria — e Ele cumpre.
Veio para mostrar que Ele não busca uma religião vazia…
Mas adoradores que O adorem em espírito e em verdade.
Jesus disse:
“Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. Pois o Pai procura a tais que assim o adorem.” — João 4:23
E acima de tudo — Ele veio para pagar, com o próprio sangue, o preço que você jamais seria capaz de pagar.
Comentários
Sem comentários ainda.
Inicia sessão ou cria uma conta para comentar.