Quanto mais lemos da Bíblia e com a alma aberta como crianças, mais conexões surgem. Descubrimos que versos do Antigo Testamento pareciam ecoar nas palavras de Jesus. Profecias atribuídas ao SENHOR encontravam seu cumprimento em Jesus. Era como se o mesmo personagem atravessasse as páginas — do primeiro ao último livro da Bíblia.
No Antigo Testamento, o SENHOR é visto como majestoso, as vezes severo e distante. Um Deus de autoridade absoluta, que fala e a terra treme. Fogo consumidor. Senhor dos Exércitos. Um Rei imponente, diante de quem ninguém ousa levantar a voz.
Mas e se… esse mesmo SENHOR glorioso, tivesse se esvaziado de sua glória e vindo até seu povo, manso e humilde?
E se fosse Ele quem, um dia, se deixou pregar numa cruz por nós?
Se for assim, toda a narrativa bíblica poderia ser sobre um único Senhor que se revela de formas diferentes. Um Deus que se revela de forma perfeita, gradualmente.
Será que desde princípio, na revelação de Deus a Moisés no Monte Sinai… Deus já estava apontando para isso?
1) Nosso Deus é o Único SENHOR
O cenário é solene. Israel está acampado na beira da Terra Prometida, depois de quarenta anos de poeira, fome, milagres e provações. Moisés, já com a voz carregada pelo peso da liderança, sabe que o povo vai entrar em uma terra onde cada cidade tem seus deuses. E antes de atravessarem o Jordão, ele sela o coração deles com a verdade mais importante de todas: há só Um.
“Ouve, Israel: O SENHOR nosso Deus é o único SENHOR.” — Deuteronômio 6:4
Se há um só SENHOR… e Jesus é chamado de SENHOR com o mesmo peso que YHWH no Antigo Testamento… então o que essa identidade significa?
Estaríamos diante de dois “Senhores” diferentes? Ou a Escritura está revelando que o Senhor que guiou Israel no deserto é o mesmo que morreu e ressuscitou por nós?
“Assim vos faço saber que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema; e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo.” — 1 Coríntios 12:3
“E toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” — Filipenses 2:11
2) O Último Clamor… e Quatro Séculos de Silêncio
O povo tinha voltado do exílio. O templo fora reconstruído, mas a glória não era a mesma. Os sacrifícios continuavam, mas o coração estava distante. A religião estava de pé, mas a comunhão estava quebrada.
Em Malaquias, o SENHOR expressou Seu profundo desgosto com aquele culto vazio:
“Quem dera houvesse entre vós quem feche as portas, para que não acendêsseis debalde o fogo do meu altar; eu não tenho prazer em vós, diz o SENHOR dos Exércitos, nem aceitarei oferta da vossa mão.” — Malaquias 1:10
É chocante: o próprio Deus dizendo que preferia ver o templo fechado, porque o coração do povo estava longe. E logo depois, no mesmo livro, Ele anuncia algo grandioso: enviaria um mensageiro para preparar o caminho… e então Ele mesmo viria ao Seu templo.
“Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o SENHOR, a quem vós buscais…” — Malaquias 3:1
Depois disso… silêncio. Não por dias. Não por anos. Mas por quatro séculos inteiros. O maior silêncio profético da história. Até que, no deserto, surge a voz de João Batista, anunciando:
“Preparai o caminho do SENHOR; endireitai no ermo vereda a nosso Deus.” — Isaías 40:3
E quem vem logo depois dele? Jesus.
O mesmo Jesus que, ao morrer, fez o véu do templo se rasgar — como se o acesso a Deus não fosse mais por aquele edifício físico, mas por Ele mesmo. O mesmo Jesus que declarou:
“Destruí este templo, e em três dias o levantarei.” — João 2:19
Era como se o SENHOR tivesse vindo para reconstruir o que já não Lhe agradava — não um templo de pedras, mas um templo vivo, formado por todos aqueles que Nele crêem.
3) O Único Redentor, Justo e Salvador — A Identidade do SENHOR no Antigo Testamento
O profeta Isaías trouxe uma mensagem misteriosa e carregada de esperança:
“Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.” — Isaías 7:14
Emanuel significa Deus conosco.
Séculos depois, quando um anjo apareceu a José, a profecia recebeu um novo brilho. Ele anunciou que Maria daria à luz e disse qual deveria ser o nome da criança:
“E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” — Mateus 1:21
Jesus (Yeshua) significa YHWH salva. O próprio nome de Jesus é uma declaração de identidade: o Deus do Antigo Testamento veio salvar.
E desde sempre o Deus de Israel afirmou, de forma absoluta, que Ele não divide Seu título e Sua obra de Redentor/Salvador com ninguém:
“Eu, eu sou o SENHOR, e fora de mim não há Salvador.” — Isaías 43:11
“Não sou eu o SENHOR? E não há outro Deus senão eu; Deus justo e Salvador, não há fora de mim.” — Isaías 45:21
“Olhai para mim, e sereis salvos… porque eu sou Deus, e não há outro.” — Isaías 45:22
“Assim diz o SENHOR, Rei de Israel, e o seu Redentor, o SENHOR dos Exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o último…” — Isaías 44:6
4) O Menino é chamado Deus Forte e Pai da Eternidade (Is 9:6)
Isaías profetizou o nascimento de alguém que carrega designações intrigantes:
“**Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros; e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.” — Isaías 9:6
Como um menino nascido pode receber nomes de Deus? E por que é chamado de Pai da Eternidade?
5) O SENHOR diz que seria traspassado (Zc 12)
O capítulo de Zacarias 12 é um dos mais intrigantes para mim sobre a identidade de Deus. O capítulo 12 inicia com a assinatura do próprio Criador, YHWH, O SENHOR do Antigo Testamento.
“Peso da palavra do SENHOR sobre Israel. Fala o SENHOR, que estende os céus, e funda a terra, e forma o espírito do homem dentro dele.” — Zacarias 12:1
Mas o choque está no meio do capítulo: o próprio SENHOR Deus diz que seria perfurado.
“Mas sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém, derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão para mim, a quem traspassaram; e prantearão sobre ele, como quem pranteia pelo filho unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora amargamente pelo primogênito.” — Zacarias 12:10
Filho unigênito, primogênito de toda a criação, todos os termos posteriorimente atribuidos a Jesus no novo testamento. Mas O SENHOR, usou-os para afirmar que olhariamos e pranteariamos por Ele, por termos O perfurado.
“E outra vez diz a Escritura: Verão aquele que traspassaram.” — João 19:37
Jesus foi transpassado por nas mãos, nos pés e no lado do corpo.
Seria esse capitulo a mais forte indicação de que O próprio SENHOR do Antigo testamento é Jesus? O Deus que criou os céus e a terra e soprou sobre nós o fôlego da vida, se fez homem e morreu por nós numa cruz?
Nota textual: Algumas versões trazem “a ele” em Zc 12:10 por variantes. Mas João 19:37 e Ap 1:7 confirmam a leitura cristológica: o Traspassado é Jesus — exatamente como YHWH anuncia no oráculo.
6) “EU SOU” — O Nome que Revela o Deus que Sempre Foi
Imagine a cena: um homem simples, descalço, diante de um arbusto em chamas que não se consome. É Moisés, no deserto, ouvindo a voz de Deus pela primeira vez.
Ele recebe uma missão impossível: voltar ao Egito e libertar Israel da escravidão.
Mas surge uma dúvida muito prática — e muito profunda:
“Eis que, quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?” — Êxodo 3:13
Naquela época, os povos eram mergulhados na idolatria. Cada deus tinha um nome específico e limitado: Baal (“senhor”), Moloque, Astarote, Dagom… Nomes que revelavam funções ou territórios, mas também deixavam claro que eram deuses regionais, finitos.
Moisés queria saber: como apresentar o Deus verdadeiro?
A resposta que veio da sarça foi diferente de tudo que qualquer religião havia dito:
“EU SOU O QUE SOU. Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós.” — Êxodo 3:14
No hebraico, Ehyeh Asher Ehyeh significa “Serei o que Serei” ou “Sou o que Sou”.
Na tradução grega antiga (Septuaginta), a frase é ego eimi ho on — “Eu sou o que existe”. É a expressão do Ser autoexistente: aquele que não depende de nada, que não foi criado, que não tem início nem fim.
A filosofia chama isso de “o Ser Necessário” — Aquele sem o qual nada poderia existir. É a resposta para a pergunta mais antiga da filosofia: “Por que existe algo, e não o nada?”.
O “EU SOU” não pode ser reduzido a um termo, porque é infinito. Ele simplesmente é.
O tempo não O limita — o tempo existe por causa d’Ele.
Séculos depois, em Jerusalém, no meio de uma festa e cercado de debates, um homem galileu olha para seus opositores e diz:
“Em verdade, em verdade vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU.” — João 8:58
As palavras ecoam o mesmo Nome da sarça ardente. Não é de admirar que pegaram pedras para apedrejá-lo — eles sabiam que Ele estava reivindicando a identidade do próprio Deus de Moisés.
Se o “EU SOU” que falou com Moisés foi o mesmo que falou no pátio do templo… então, quem realmente estava ali diante deles?
E… quando lemos essas palavras hoje, quem está diante de nós?
7) Alfa e Ômega
O império romano está em seu auge e a perseguição aos cristãos aumenta. Igrejas estão sob pressão.
O apóstolo João, já idoso, é exilado na ilha-prisão de Patmos por causa da Palavra. Longe de tudo e de todos, ele recebe uma visão que atravessa o tempo.
Entre trombetas e trovões, uma voz poderosa se apresenta:
“Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro.” — Apocalipse 22:13
Na cultura grega, Alfa era a primeira letra do alfabeto e Ômega a última. Mas a frase vai muito além de “primeiro” e “último” como pontos na linha do tempo. É uma forma genial e simples de dizer:
“Eu abarco tudo. Estou antes de todas as coisas, e estarei depois de tudo. Nada existe fora de mim.”
Séculos antes, no Antigo Testamento, YHWH já havia usado palavras muito parecidas:
“Assim diz o Senhor, Rei de Israel, e seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último; e fora de mim não há Deus.” — Isaías 44:6
O salmista também descreve o Criador como eterno e imutável:
“Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás… tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim.” — Salmo 102:25–27
No Novo Testamento, o autor de Hebreus aplica exatamente esse texto a Jesus:
“Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra… mas tu és o mesmo, e os teus anos não acabarão.” — Hebreus 1:10–12
A lógica é arrebatadora:
-
No AT, o “Primeiro e Último” é o Senhor, o Deus de Israel.
-
No NT, o mesmo título é dito por Jesus ressuscitado.
Se o Alfa e Ômega é Aquele que cria e sustenta todas as coisas… e Jesus se apresenta assim… quem, afinal, estava falando com João naquela ilha?
E mais importante: se Ele é o princípio e o fim, qual é o nosso lugar dentro dessa história que começa e termina n’Ele?
8) As palavras do próprio Jesus diante dos discípulos um pouco incrédulos
É a última noite antes da cruz.
Um aposento fechado, o ar denso de medo e confusão. Os discípulos sentem que algo grande e doloroso está prestes a acontecer. Jesus fala sobre ir preparar lugar, e as palavras, embora cheias de esperança, soam distantes para corações aflitos.
Filipe, talvez falando o que todos pensavam, rompe o silêncio:
“Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta.” — João 14:8
A resposta de Jesus não é apenas um esclarecimento. É um corte e uma cura ao mesmo tempo:
“Estou há tanto tempo convosco, e não me conheces, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” — João 14:9
Ali, no meio da tensão, Ele revela algo profundo: ver Jesus é ver o Pai. Não é apenas um reflexo, não é apenas um mensageiro — é a presença do próprio Deus diante deles.
Logo antes, Ele já havia dito algo que, lido com atenção, carrega um detalhe sutil e impressionante:
“Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” — João 14:6
Ele não disse “ninguém vai ao Pai”, como se o Pai estivesse em outro lugar. Ele disse “vem” — um verbo que indica aproximação para onde Ele está. É como se o Pai estivesse Nele, e vir a Jesus fosse vir ao próprio Pai.
E Jesus continua a entrelaçar o mistério:
“Eu e o Pai somos um.” — João 10:30
“…viremos para ele, e faremos nele morada.” — João 14:23
Mas João 14 não para aí. Ele introduz o tema do Consolador, o Espírito Santo, de um jeito que revela ainda mais a unidade de tudo. Veja o encadeamento:
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre.” — João 14:16
“Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós.” — João 14:18
“Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar…” — João 15:26
“Se eu não for, o Consolador não virá para vós; mas, se eu for, enviar-vo-lo-ei.” — João 16:7
Perceba o padrão: Ele diz que pedirá ao Pai para enviar o Consolador, mas também promete que Ele mesmo voltará para eles. Logo depois afirma que Ele enviará o Espírito. Pai visto no Filho; Filho que vai; Espírito que vem — e no fim, é a mesma presença divina agindo.
João 14 é como uma janela aberta para dentro do mistério: o Deus que o mundo não podia ver estava ali, sentado com eles, falando, prometendo, preparando-os para viverem com Ele de um modo novo. Não mais apenas andando ao lado, mas habitando dentro.
9) O Espírito Santo é o Espírito de Cristo
A Bíblia não apresenta o Espírito Santo como uma figura separada, mas como o próprio Espírito de Deus — que também é chamado de Espírito de Cristo. O mesmo Espírito que pairava sobre as águas na criação, que falou pelos profetas, e que hoje habita dentro dos filhos de Deus.
Paulo escreve com precisão cirúrgica:
“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.”
Romanos 8:9
O Espírito de Deus e o Espírito de Cristo são o mesmo. E Pedro reforça:
“Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, ao predizer os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir.”
1 Pedro 1:11
Se o Espírito que falava pelos profetas era o Espírito de Cristo, mas os profetas diziam estar falando em nome do SENHOR… então, quem é Cristo?
Na Bíblia, esse mesmo Espírito recebe muitos nomes:
-
Espírito Santo — Lucas 1:35
-
Espírito de Deus — Gênesis 1:2
-
Espírito do Senhor — Isaías 11:2
-
Espírito de Cristo — Romanos 8:9
-
Espírito da Verdade — João 16:13
-
Espírito de adoção — Romanos 8:15
-
Espírito de sabedoria e revelação — Efésios 1:17
-
Espírito eterno — Hebreus 9:14
Se tantos nomes descrevem o mesmo Espírito, e esse Espírito é de Cristo…
então quem, de fato, habita em nós?
Seria o Cristo, o próprio SENHOR, e o Espírito, o Espírito Dele?
10) Dobre o joelho… mas para quem?
No tempo de Isaías, o povo estava cercado por nações com seus próprios deuses, mas o Senhor lembra a todos quem realmente governa a história:
“Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro. Por mim mesmo tenho jurado… diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua.” — Isaías 45:22–23
O cenário é absoluto: um dia, toda a humanidade se curvará diante de YHWH.
Séculos se passam. Então, o apóstolo Paulo, escrevendo aos filipenses, ecoa o mesmo quadro… mas agora com um nome específico no centro:
“Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” — Filipenses 2:10–11
E aos romanos, ele reforça:
“Porque está escrito: Vivo eu, diz o Senhor, que todo o joelho se dobrará a mim, e toda a língua confessará a Deus.” — Romanos 14:11
A pergunta que fica é simples e inevitável:
Se, no Antigo Testamento, todo joelho se dobra diante de YHWH… e no Novo Testamento, todo joelho se dobra ao nome de Jesus… quem Jesus está afirmando ser?
Comentários
Sem comentários ainda.
Inicia sessão ou cria uma conta para comentar.